MAR 2020 financia Museu (vivo) do Peixe Seco

Perpetuar tradição da Secagem do Peixe pode atrair novos agentes para esta arte

 

NIGEL

No passado dia 28 de fevereiro a gestão do Mar 2020 esteve na Nazaré para visitar um projeto apoiado por esse programa operacional, que envolveu a requalificação do estendal de secagem de peixe e a criação do Museu (vivo) do Peixe Seco.

Aquela intervenção, cujo investimento elegível ascende a cerca de 160M€, tem como beneficiário o Município da Nazaré e visa preservar uma tradição ancestral e a memória coletiva das gentes locais.

Historicamente, a prática de secagem do peixe surgiu como metodologia de conservação, suprindo as necessidades do produto quando este escasseava. Ao ser conservado através deste processo, o peixe podia ser vendido nos mercados da região, o que ainda hoje acontece.

A requalificação do estendal constitui uma melhoria das condições de realização desta atividade tradicional – acrescentando-lhe condições de maior higiene – e sua adaptação aos dias de hoje.

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Por sua vez, o Museu constitui-se como uma fonte de conhecimento, com suportes escritos, fotográficos e multimédia, que explicam a origem da arte ancestral da secagem de peixe, o porquê do seu surgimento, em que consiste todo o processo e quais as espécies de pescado mais utilizadas na secagem, de que são exemplos o verdinho, o polvo ou a sardinha.

Além da sua inquestionável vocação de atração turística, o Museu (vivo) do Peixe Seco visa despertar as novas gerações para a importância histórica e prática da tradicional secagem de peixe da Nazaré, com o objetivo de preservar a memória e a tradição, e de potenciar a evolução desta arte para outros patamares de inovação.

Criadas que estão as condições para que seja dada continuidade a esta atividade, novos agentes poderão potenciar o interesse na mesma e, assim, contribuir para a diferenciação do sector da pesca na região e a nível nacional.

De acordo com informação prestada pelo Município, encontra-se já em curso o processo de Certificação do Peixe Seco, fruto de uma parceria com a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche/IPL, o que, certamente, potenciará a sua comercialização e lhe acrescentará valor.

 

Entrevista a Walter Manuel Cavaleiro Chicharro (Dr.), Presidente da Câmara Municipal da Nazaré  

 

1) Como surgiu a ideia de preservar este património cultural e uma técnica tão específica num Museu?

A tradição de secar o pescado em excesso na Nazaré é uma atividade secular, e terá surgido com a necessidade de conservar o peixe para os dias de escassez. A atividade realiza-se diariamente por um grupo de peixeiras da Nazaré, no estendal, localizado na praia, ao sul. Tradicionalmente assegurava o sustento das famílias quando o peixe escasseava, mas também permitia conservá-lo para ser vendido nos mercados da região, o que ainda hoje acontece.

A secagem do peixe é parte integrante da praia da Nazaré, trata-se de um local procurado pelos turistas e veraneantes durante todo o ano, mas numa fase anterior a este projeto encontrava-se descolado da marginal não convidando à sua visitação e descoberta.

Assim surge o desafio de desenvolver um projeto de forma a convidar e atrair os turistas para uma visita, tornando o local mais apelativo, qualificando as condições de trabalho e estimulando as novas gerações para continuidade esta atividade.

Dando lugar ao projeto “Museu do Peixe Seco”(MPS), uma aposta da Câmara Municipal da Nazaré, desenvolvido pelo Arquiteto Álvaro Manso, que tem como principal objetivo a preservação da tradição ancestral da seca de peixe no areal da praia da Nazaré.

A Nazaré tem no Turismo uma das principais atividades e o Museu do Peixe Seco permite consagrar um elemento diferenciador da cultura nazarena como atração turística, oferecendo, simultaneamente, melhores condições de trabalho àqueles que se ocupam desta atividade, com a perspetiva de captar novos agentes (postos de trabalho) para que a tradição se perpetue no tempo.

 

2) Este projeto do Museu na se limita à área expositiva. Pode explicar a extensão do projeto?

O MPS é composto pelos seguintes espaços:

Núcleo 1 – “Estindarte” (estendal) do MPS; espaço destinado à secagem do pescado, localizado no areal da Nazaré

Núcleo 2 – Centro Interpretativo do MPS, localizado no Centro Cultural da Nazaré, destinado a exposições permanentes e/ou temporais sobre a secagem de pescado;

Núcleo 3 – Zona de preparação de pescado fresco, localizado numa área contígua ao Centro Cultural da Nazaré, destinado à lavagem, evisceração e corte do pescado.

No Centro Interpretativo do Museu do Peixe Seco (núcleo 2), consta um breve historial desta arte, tão antiga na Nazaré, onde se incluem conteúdos escritos e artefactos utilizados nessa área do saber-saber e do saber-fazer. Além das componentes mais estáticas no discurso museológico, este núcleo 2 terá, também, uma componente multimédia, que permitirá a divulgação do projeto através de um vídeo editado pela equipa da CMN. O Núcleo 3 surge como um espaço de necessidade para a preparação do peixe, dispondo das condições necessárias ao seu manuseio, assegurando o encaminhamento dos resíduos do pescado de forma adequada.

A face mais visível do museu é zona de secagem, setor em que o projeto desenvolvido pela autarquia contemplou a substituição do antigo estendal (popularmente designado por “estindarte”) por um novo, instalado numa plataforma moderna, elevada à altura da marginal para facilitar a comunicação entre peixeiras e público, e permitir que os visitantes possam circular, conhecendo o processo de secagem e a sua antiguidade.

 

3) Como aderiram as artífices a esta iniciativa?

Com a implementação deste projeto, ocorreu um aumento do número de comerciantes aumentando de 11 para 15, reflexo da melhoria das condições de trabalho que tornaram o local mais apelativo incentivando a uma maior adesão. As 15 peixeiras, que desenvolvem a sua atividade no Museu do Peixe Seco, reconhecem que este projeto permitiu dignificar a sua atividade, oferecendo melhores condições de trabalho a todas que ali operam.

 

4) De que forma foi importante o apoio do programa Mar2020?

Com a aprovação da candidatura submetida no âmbito da Preservação, Conservação e Valorização dos elementos Patrimoniais e dos Recursos naturais e Paisagísticos do GAL Pesca Oeste – programa comunitário MAR2020-, que contou com um investimento elegível de €159.781,67, a que corresponde uma despesa pública de €159.781,67, composta por uma comparticipação do FEAMP de €135.814,42 e por uma comparticipação nacional de €23967,25, este projeto tornou-se uma realidade.

 

5) Além da preservação deste importante património, que outras atividades o Museu tem previstas para envolver o público?

O Município da Nazaré editou um livro “Seca do Peixe: uma arte”, uma obra elaborada pelo gabinete de gestão do património e cultura da Câmara Municipal da Nazaré. O documento reúne a história da secagem do peixe e testemunhos das peixeiras que se dedicam a esta atividade, mantendo viva uma tradição ancestral, que aprenderam com as bisavós, e que conservam com grande orgulho.

Em paralelo são organizados vários eventos: Workshops, sessões de degustação do peixe seco, sessões de show-cooking, aliando a tradição gastronómica da Nazaré a novos sabores.

Em parceria com as escolas são desenvolvidas visitas guiadas ao Museu Do Peixe Seco, sensibilizando para a importância desta arte.

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